A METÁFORA VANGUARDISTA E O PALAVREADO PARAOARA (NA POESIA) DE RONALDO FRANCO
"A minha poesia dialoga (primeiramente) com a Ecologia dos Afetos. Como reconstrução da humanidade. Como investimento ético-afetivo. Uma ética que permita recuperar o sentimento pelo outro, pela fauna e flora".
Ronaldo Sérgio Batista Franco nasceu em Belém. Jornalista por excelência, é considerado pela intelligentsia paraense como um artesão das palavras. Um trabalhador sem relógios. Sobrevivente dos abscessos da desinteligência. E continuo aprendiz que em dezembro de 2009 completou 61 anos, dos quais mais da metade dedicado a poesia. Ronaldo, conhecido por todos os amantes da poesia como "Poetinha" – codinome criado pelo jornalista Elias Pinto –, é desses escritores, com presteza de poeta, boa praça, fomentador de culturismo e homem culto, que vive de bem com a poesia. Tido como um marechal das palavras já publicou quatro livros – alguns em parceria com outros intelectuais. Autodenomina-se voraz leitor de grandes escritores contemporâneos e circula com facilidade por todas vertentes literárias.
Fiel ao encanto poético, desde jovem, sofre forte influência de escritores do peso de Ruy Barata, Max Martins, José Maria de Vilar Ferreira, Mário Faustino, Pedro Galvão, Ferreira Gullar, Mário Quintana, Carlos Drummond, Jorge de Lima, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Stéphane Mallarmé, Tristan Corbière, Charles Baudelaire, Maiakóvski, Walt Whitman, Dylan Thomas, Sylvia Plath e Ezra Pound.
A paixão pelas palavras caminha a passos largos: a poesia de Ronaldo Franco é, pois uma grande angular cabana. Uma voz repetindo uma, ou duas palavras junto ao ouvido. Uma coceira de letras no corpo. Imagens soltas na cabeça. Outras encarceradas na memória onde o poeta trabalha numa viagem até aqui. Ou bem longe. Dentro de um navio com asas. Nas ondas dos caminhos. Onde florescem janelas. Até a palavra nuvem. Até a última pedra. Até logo.
Por amor a poesia: desde 2004 Ronaldo tem uma celebrada página no caderno "Por Aí" do jornal "Diário do Pará": coluna que sai todas às sextas, onde – com sensibilidade – municia seu cativo público com poesias de vida e morte e concorridas agendas culturais. Vale destacar que em parceria com compositores e cantores de Belém, o "Poetinha" tem letras de música gravadas em CDs, e nos colégios públicos do estado distribuiu (de graça) mais de 800 livros (o Cidade Velha).
O poeta Ronaldo Franco pode ser lido e admirado por meio de seu visitadíssimo blog de variedades, que responde por informações das artes paraoaras – e principalmente das artes belemitas – lugar que o poeta publica seus poeminhas, mistura-se com os normais. É o caderno eletrônico (- visível -) de todas as raças multiculturais, posto que com simplicidade e sem veneno, repassa aos internautas as dicas dos movimentos de todos os palcos de nossa literatura, música, teatro, política, esporte, bem como a cultura do Brasil e do mundo.
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I - Livros publicados:
“Teia”, “Cidade dos Poetas” (em parceria com o poeta José Maria de Vilar Ferreira), “Cidade das Águas” (em parceria com Alfredo Garcia) e “Lente Feminina” (com as fotografias de Ana Mokarzel e Karol Khaled, livro inovador produzido com imagens incorporadas às palavras).
II - Poemas Eletrônicos
III - Parcerias musicais com outros artistas
1
Sou uma constante reescrita.
É impossível não se dizer
(no mínimo de letras)
e, ao mesmo tempo,
em que não se pode tudo dizer
(no máximo de palavras).
Falar demais:
é escancarar detalhes insignificantes
da vida doméstica.
A minha vida
sustenta-se no diário de algumas palavras:
- Trabalho, respeito, ternura, amizade,
saudades, amor.
(Essas tão fora da existência do mundo...)
Por gostar de banho de chuva:
- Estou sempre sujeito a fortes crises de gripe
e febre de carinho.
2
Sinto medo do Ronaldo
solto no papel, onde poeta
me dou abismos.
Mas que faria
se já não fosse Franco
e se já não tivesse passado pelas paixões do Sérgio,
por Batista (saído das fraldas,
das calças curtas, de amores inesquecíveis)
e pelos mares das letras?
3
O Guarda-Chuva
Dobrado em sua solidão
em sua única asa
negra
seu secreto escuro.
Sujo e ignorado
em seus arames
entediado objeto
inventor de sombras.
Aguarda
as conseqüências
dos ventos e dos relâmpagos
para abrir-se
no mesmíssimo vôo
sobre um ombro qualquer.
Cobre
o encontro urgente
na hora necessária
a alegria debaixo da espera
o susto das palavras
na cabeça da noite.
E não deixa
a água molhar a mão
que segura o rosto
incendiado
no beijo pensado.
Como um pássaro
que liga a chuva ao amor
4
Bar do Parque
Sem portas
não fecha
o concerto de gargalhadas
nem cala
a liberdade
Não algema
mãos delicadas
nem tranca
a escandalosa saudade.
Sem janelas...
Porque o adeus na noite
é obsceno
em desamparados olhares
O teto
são cabeças distantes
e o cio de estrelas
da terra
O chão:
- A existência
do céu inventado
e o inferno do rim
(no mijo das palavras)
É assim o bar
do par que exibe
as bocas naufragadas
entre copos e garrafas
(sobre o lixo da escuridão)
- como um outdoor
do tédio! -
(...Esse par que
no barco bêbedo
dentro do mar invisível
quebra-se
nas calçadas do sol...)
O bar não fecha a poesia:
não tem portas a noite
nem janelas o dia.
O bar é par do impossível
que amanhece ímpar
5
Quantos amarronzados
fingiram-se de brancos?
Quantos assumem o pardo
desde Castelo Branco?
Quantos pardos
quando tipóias
juntaram os ossos do amor?
De quantos bichos
os morenos vestiram-se
para serem
humanamente despidos?
Por quantas coxas
a serpente negra passou?
6
Esse Ruy é minha rua
O Paranatinga
inesperadamente fechou abril
Rapidamente
abriu-se o rum do vazio
O rio sabe o rumo
do boto boêmio
A boemia rema
saudade do poeta inexaurível
O argonauta de bares
aporta na rima extrema
Pelos ares:
um pixé de solidão na cidade
Nel mezzo del camim
um Ruy sem fim
pisa nos calos da lua
Esse Ruy sem endereço
é minha rua...A poetização da vida:
o caminho
para o amor interior:
tanto para um
quanto para o outro,
com os silêncios do cotidiano
quebrados
com as vozes dos olhares...
7
Parceiros musicais:
saltam da mente para a música
e para o sol
que ameaça transbordar
o ritmo da noite.
(O chão de pedras serve como rascunho
para letras no meio do caminho da poesia).
8
Nem Drummond
Nem Gullar
Nenhum poeta do mundo
Sente o cheiro da saudade
da minha mãe no ar
Só eu...Eu só...
9
Um casal guarda dentro da memória
outro mundo maior que o mar.
Andam em palavras movediças
(com suas coragens).
Afundam-se em olhares,
ouvidos, beijos (prorrogados)
e corações (celebrados).
Emergem de interpretações amalucadas:
do eu te amo irrevogável,
do riquíssimo vocabulário
(íntimo) em sílabas
e que deságuam em criatividade física:
de pernas e braços entrelaçados.
A vida é profunda,
e eles bóiam ilhados no desejo.
Bóiam e, em fantasias desmedidas,
cada um a sua maneira,
brincam com os que dizem
que “os casados não namoram...”
Ao sabor arejado da inteligência amorosa
em que florescem,
são sempre apaixonados.
Cegos para o passar do tempo.
E seus olhos são presentes do amor.
10
Janelas :
Vãos cavados nas casas da memória,
e nelas surgem as saudades,
que se escancaram para a distância das coisas.
Nos rasgões das paredes do cotidiano,
debruçam-se as vozes
de calendários calados...
Janelas
são bocas das palavras domésticas:
Liberdade do dizer para além delas.
Os dias de dezembro
abrem-se para o mundo.
11
Nem sempre escutado
O galo e sua ópera encharcada
No tempo
por cima
dos telhados do tédio
Sobre
chuvas íntimas
no bordel das conversas
Movimenta
as folhas dos corpos
em resma de silêncios...
Do livro "Cidade Velha"
RONALDO FRANCO
(Belém/Pará)
ronaldofranco47@gmail.com
Referências:
Pesquisa na Net.